por Débora Yuri
Adotar bichos abandonados está na moda. Os pets estão saindo das ruas de São Paulo e ganhando casa própria e cuidados por meio de feiras, corners em megalojas, abrigos de ONGs e, quem diria, da internet. Não há dados oficiais sobre a população nacional de cães e gatos de rua. A Mars Brasil, dona da marca Pedigree, que lançou o programa Adotar É Tudo de Bom, no final de 2008, estima em 20 milhões o número de cachorros carentes no país – quase um bicho para cada dez brasileiros. ONGs participantes do projeto registraram crescimento na procura por bichos sem lar acima de 400%.
“O aumento da adoção vem do esforço das ONGs, de campanhas de conscientização do governo e da mudança de comportamento da população”, diz a advogada Vanice Orlandi, presidente da UIPA (União Internacional Protetora dos Animais), fundada em 1895 e que doa de 600 a mil cães por ano. “Hoje, adoção é prática popular e divulgada, por isso mesmo endurecemos nossos critérios.”
A instituição exige do adotante comprovante de renda e endereço e reforça que o animal vai viver de 12 a 15 anos, pesando no orçamento familiar. “Sabemos que muitos adotantes mentem, falam que têm espaço para um são-bernardo em casa. Quando vamos ver o local, é só uma área de serviço minúscula. Tentamos evitar a ação por impulso.”
Se você já passou da “fase do impulso” e quer levar para casa um bicho abandonado, melhor evitar as feiras de adoção. Cada vez mais comuns na cidade, elas são condenadas por veterinários e defensores de animais, pois expõem os bichos a calor, chuva, sujeira, excessivo contato com gente e estresse. A exceção são as ONGs que atuam longe de seus abrigos e expõem os animais em um local fechado. É o caso da Vira-Lata É 10, que tem espaço fixo e interno na loja Cobasi Villa-Lobos.
A internet assumiu papel decisivo para a recente onda de adoções em São Paulo. Mas também tem suas recomendações de conduta, como visitar abrigos pessoalmente antes de eleger um bicho. A rede cristalizou ainda o perfil do novo adotante: jovens da classe alta, para quem acolher um cão ou um gato de rua ganhou status de causa.
Instituição pede até comprovante de renda para proteger o bicho
“A Web 2.0 impulsionou nosso sucesso, porque permite interação real, e isso mobiliza as pessoas”, diz a veterinária Cynthia Schoenardie, gerente do Adotar É Tudo de Bom. “Há um grande engajamento de internautas jovens, na faixa dos 20 a 30 anos, com alta escolaridade. O adotante agora passa a imagem de descolado.”
Replicado da campanha mundial da Pedigree, o programa gerou a adoção de quase 10 mil cães em 18 meses, com 32 ONGs apoiadas, e seu website bateu 120 milhões de page views. No Brasil, o projeto nasceu na própria web, em 2008, com Yahoo!, Google e MSN se unindo pela causa. Cada portal escolheu um cão abandonado “real” com a missão de lhe encontrar um lar, e eles foram para o YouTube, Orkut, Flickr e Messenger.
Em 2009, os cães órfãos chegaram ao Facebook e ao Twitter e foi lançada uma campanha solidária no YouTube: cada visualização de vídeo viraria um prato de comida para os bichos abandonados. “O Twitter foi um dos responsáveis pela viralização da campanha: no pico de acessos no primeiro dia, eram postados dois tweets por segundo sobre as ações. Os blogueiros também foram. Atingimos nossa meta, de 100 mil acessos, em seis dias”, lembra Cynthia.
A UIPA também aderiu às redes sociais. Dez perfis de seus bichos foram colocados no Facebook, e o usuário podia ajudá-los adotando-os, fazendo uma doação a partir de R$ 20 ou os sugerindo como amigos para sua rede. Em três dias, eles fizeram mais de mil amigos.
Foi por causa da internet que o projeto caseiro Adote um Gatinho virou ONG, segundo a jornalista Susan Yamamoto, uma das sócias. “Em 2002, eu me interessei por proteção animal participando de grupos de discussão no Yahoo!. Criei um site para divulgar os gatinhos que levava para casa, e eles começaram a ser adotados”, conta.
De lá para cá, 3.000 gatos acharam um lar. O site hoje registra 150 mil page views mensais, e a equipe tem 44 voluntários, “todos jovens”, um deles responsável apenas por alimentar Twitter, Facebook e Orkut. “A internet continua sendo nossa principal ferramenta, pois não fazemos feiras e só doamos para quem prova que tem condições financeiras”, diz Susan.
O bê-á-bá da adoção
» A internet é ótima para busca e triagem iniciais, mas é bom visitar o abrigo e interagir com o animal antes de levá-lo para casa
» Desconfie de ONGs e abrigos que não fazem entrevista com o adotante ou que passam informações vagas sobre saúde e personalidade dos animais
» Observe se o bicho não tem secreção nos olhos e no nariz, se é ativo e se sua pelagem é uniforme
» Investigue o comportamento do bicho. Ele é agressivo? Violento? Observe sua interação com as pessoas e os outros animais do abrigo
» Bichos adultos também aprendem e se adaptam a um novo lar – e geralmente são mais tranquilos e sossegados
» É normal que as instituições cobrem alguma taxa para manter suas atividades. Depois da adoção, leve o pet ao veterinário para colocar em dia vacinação e vermifugação, além de exame de fezes e hemograma
» Se já tem animais em casa, não misture os novos amigos logo de cara. Recomenda-se uma “quarentena” de ao menos uma semana
» Um bicho adotado não requer cuidados diferentes. É lenda a crença de que vira-latas são mais resistentes que os puros-sangues mauricinhos.
Fonte: Revista Época SP
Obrigada,
Claudia Pinelli.
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